MULHERES
Ditadura da beleza
A fala do corpo é a fala da identidade
Padrões estéticos são construções socioculturais que variam de acordo com os períodos históricos. Ao longo dos séculos, as mulheres têm sido constantemente expostas a dirsos ideais de beleza, e nem sempre o corpo magro foi o mais desejado.
No período da Renascença, corpos roliços, com quadris grandes e abdomes avantajados sinalizavam fertilidade, saúde, força, estabilidade emocional e elevado status social. Especialmente a partir do século XX, porém, formas mais esguias passaram a ser consideradas símbolo de sucesso e beleza, ao passo que o excesso de peso associava-se a complicações para a saúde e a gordura passou a ser rejeitada, como um atributo desviante e estigmatizado.
Sabe-se que o grau de magreza considerado “ideal” variou nas últimas décadas, porém a brutal exposição a restritos padrões de beleza muda nosso olhar, e faz com que vejamos uma mulher de peso normal como “cheinha” ou “gordinha”, e uma mulher com baixo peso como com “peso ideal”. Além disso, sempre existirão pessoas marginalizadas enquanto perdurar a necessidade de que todos se adequem a uma definição única de belo, que nos dias atuais é em geral identificada como magreza, tônus muscular, juventude e cor da pele, configurando a “ditadura da beleza”.
Dentro do espectro da ditadura da beleza, um dos aspectos mais marcantes diz respeito à disseminação da falsa noção de que o corpo é infinitamente maleável. De acordo com esse raciocínio, o ideal estético poderia ser conquistado por qualquer um que se determine a seguir as prescrições culturais de exercícios e dieta adequados. O grande problema relacionado a este pensamento é que todas as particularidades e necessidades do corpo de cada um e também as limitações impostas pela biologia e pela genética são completamente rejeitadas.
Nesse contexto, faz-se necessário perguntar: se atingir tais padrões estéticos implica diversos sacrifícios pessoais e pode causar sofrimento, por que estas práticas são amplamente abraçadas e internalizadas?
Aceitar a ditadura da beleza é um processo complexo que depende de fatores sociais, interesses materiais e, ainda, da própria subjetividade e do comportamento femininos. Para responder à pergunta, pode-se valer do papel da mídia como um agente social influenciador dos padrões de comportamento. Nela, é possível observar que o corpo feminino foi progressivamente transferido de um contexto de liberação sexual e sensualidade para outro no qual a insegurança em relação às formas corporais foi fortemente intensificada.
As mulheres, então, encaram o padrão público de corpo ideal como um padrão privado, pessoal, e isso leva a uma vida de monitoramento contínuo e comparativo. Ao invés de questionarem as instituições culturais, as mulheres se culpam por suas relações angustiadas com seus corpos, engajando em comportamentos caracterizados por dietas, exercícios, cirurgias e até métodos mais perigosos. A prevalência de mulheres que fazem dietas já é tão alta que o que é hoje considerado uma “alimentação normal” seria tradicionalmente visto como patogênico ou sintoma de transtorno alimentar, por exemplo.
Assim, desde faixas etárias bastante jovens, a adoção de práticas restritivas em prol do ideal de beleza é propagada como uma vitória pessoal, mesmo que desnecessária. Afinal, os corpos de todas as mulheres são vistos como “deficientes” e necessitam ser melhorados. Como resultado desse processo, a transformação do corpo é invariavelmente apresentada como via para atingir poder, controle, aceitação, felicidade e melhora da autoestima. Casos bem sucedisos na busca pelo corpo ideal são tratados como fonte de inspiração para outras mulheres e, paralelamente, o ganho de peso ou o afastamento em relação ao corpo “perfeito” é visto como um perigo, uma ameaça e uma causa de tristeza e vergonha.
Por causa de suas variadas implicações, a necessidade de se conhecer e debater a ditadura da beleza se torna evidente e urgente. Visões mais realistas sobre formatos corporais saudáveis e a ênfase de outras características que não a aparência física como determinantes da importância agregada à pessoa são, portanto, essenciais para promover a aceitação do tamanho corporal, com a celebração da diversidade de tamanhos e formas. Assim, diversas vivências corporais poderão coexistir, de tal forma que o magro, o gordo, o feio, o belo, o jovem e o velho possam encontrar um espaço social de expressão, satisfação e realização.
Atividade física
Praticar atividade física regularmente faz bem para todos? Depende. Se você a utiliza com o único propósito de queimar calorias, provavelmente, você não conquistará todos os benefícios que a prática pode proporcionar. Pesquisas mostram que a preocupação exagerada com o corpo pode levar algumas pessoas a praticar atividades físicas de forma excessiva ou compulsiva.
Prática excessiva
Prática compulsiva
A atividade física é qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos, que resulta em um gasto enerfético maior do que os níveis de repouso. Já o exercício físico é uma atividade física estruturada, ou seja, uma sequência planejada de movimentos repetidos sitematicamente, que possui frequência, duração e intensidade delineadas, com o objetivo de melhorar ou manter um ou mais componentes da aptidão física relacionada à saúde.
Os profissionais de saúde devem discutir conceitos adequados sobre atividade física saudável e orientar a prática do exercício físico de modo a beneficiar a saúde (e não apenas perder peso ou “queimar calorias” simplesmente); devem dar particular atenção à reversão das práticas inadequadas e saber identificar sintomas da prática inadequada de atividade física. É preciso avaliar a motivação para prática de exercícios e reconhecer o exercício excessivo ou compulsivo, ou ainda a sua utilização como compensação. Obviamente a prática de exercícios, no entanto, pode ser terapêutica para todos e também para pacientes com transtornos alimentares desde que orientada por profissional competente e com conhecimento profundo sobre TA.
Para saber mais:
Teixeira PC, Costa RF, Matsudo SMM, Cordás TA. A prática de exercícios físicos em pacientes com transtornos alimentares. Rev Psiq Clín. 2009;36(4):145-5.
Alguns quadros têm sido discutidos dentro da temática transtornos alimentares e atividade física, dentre eles se destacam a tríade da mulher atleta e dismorfia muscular.
Tríade da mulher atleta
É uma síndrome que pode se desenvolver silenciosamente em atletas de elite, e em meninas e mulheres fisicamente ativas podendo levar à diminuição do rendimento ao aparecimento de comorbidades, e até a morte. A crença de que a baixa porcentagem de fordura corporal melhora o desempenho faz com que muitas mulheres diminuam sua ingestão calórica.
A perda de peso consequente à restrição e aos comportamentos inadequados de controle de peso predispõe às disfunções do ciclo menstrual e à perda de massa óssea. A amenorréia não deve ser considerada “normal” em atletas ou mulheres fisicamente ativas e deve ser investigada. Com o passar do tempo, a ação desregulada dos hormônios femininos dificulta a absorção de cálcio. Esse fato associado a uma dieta inadequada acarreta a médio/longo prazo a osteoporose. A osteoporose é uma doença que diminui gradativamente a densidade óssea, deixando os ossos enfraquecidos e vulneráveis a fraturas. Não há como cessar esse processo, sendo possível apenas controlá-lo.
Por isso, é muito importante que a mulher procure tratamento assim que algum dos sintomas da tríade aparecer para assim, não correr o risco de ficar impossibilitada de praticar atividades físicas.
Dismorfia muscular
A dismorfia muscular ou vigorexia consiste num quadro que envolve uma preocupação patológica de não ser suficientemente forte e musculoso em todas as partes do corpo. A fim de alcançar um corpo musculoso idealizado, o indivíduo adota comportamentos compulsivos, como exercícios físicos exaustivos, priorizando os do tipo anaeróbico (evitando as atividades aeróbicas, para não perder massa muscular), uso indiscriminado de suplementos nutricionais (geralmente protéicos), padrões disfuncionais de alimentação e uso de substâncias (esteróides anabolizantes). A dismorfia muscular pode ser profundamente deletéria à vida social do indivíduo, que deixa de comparecer a eventos sociais e até perdem seus empregos para conseguir manter sua rotina de treinamentos. Também sofrem consequências físicas importantes,especialmente quando mantém os treinos mesmo quando lesionados e quando utilizam esteróides anabolizantes. Neste último caso, o uso prolongado pode levar a problemas de colesterol, aumento da próstata, calvície, acne, ginecomastia e atrofia testicular.
Portanto, nem toda prática de atividade física é saudável, fique atento se você:
Existem inúmeros tipos de atividade física: caminhar, correr, andar de bicicleta, patinar, dançar, lutar, nadar, jogar vôlei, basquete, tênis, badminton, frescobol, enfim… Com certeza você encontrará uma prática que proporcione mais prazer a sua vida. Tente variar mais e experimentar coisas novas!